
16 de agosto de 2006
Jus Vermelha | Publicação em 17.08.18Reprodução Globo Esporte

Nunca fui daqueles que oportunisticamente passam fustigando o rival. Aplica-se o óbvio: nós somos nós, e eles são eles. Cada qual cuidando dos seus problemas. Esse é um pensamento racional, adequado e, salvo os fanfarrões e folclóricos, dito e repetido por todos os dirigentes sérios da dupla.
Mas, deixando o politicamente correto um pouco de lado, mesmo que de canto de olho, tanto nós como eles sempre espiamos o que está ocorrendo com o vizinho.
Um gesto que ficou marcada na história do futebol do Rio Grande do Sul, foi a “CARTA” publicada pelo Internacional, em página inteira dos principais jornais, saudando os 100 anos do rival. Em síntese, nós só somos nós e eles só são eles, em razão da disputa histórica.
Pois bem, em um determinado período da história colorada, parecia impossível a Libertadores da América. Já havíamos, pelas mãos do Abelão, chegado perto, muito perto. O grupo de colorados que assumiu o Internacional a partir de 2000, estava obstinado em conquistar a América.
Para tanto, era necessário muita dedicação e competência. O primeiro passo foi, nas palavras do presidente de então, o de resgatar o orgulho colorado. Ele estava abalado por um fenômeno subjetivo e que pairava como alma penada no Beira-Rio. Sempre que diante da necessidade de um resultado positivo, mesmo que à frente no placar, a crença era de que algo daria errado.
As estratégias, tanto do futebol, da administração em geral e do marketing, eram a de buscar a excelência em tudo. Como já referi, queríamos ganhar até na quantidade de bandeiras e camisetas presentes no Planeta Atlântida, na Expointer ou aos domingos na Redenção.
Esse tipo de postura contamina positivamente o vestiário.
Quis o destino, senhor da história, que estivéssemos todos juntos e unidos, constituindo um grupo coeso, onde a vaidade não preponderava. Tínhamos tarefas das quais nos desincumbíamos com maestria. Na Libertadores de 2006, o sonho foi se transformando passo a passo em realidade e testemunhar foi um privilégio das circunstâncias.
A cada viagem pela América fomos crescendo, tanto como time, como clube. As dificuldades eram muitas: distância, hostilidades, vestiários fechados, falta de água nos chuveiros e arbitragens questionáveis.
Mas a crença de que era possível foi dominante, arredando o pessimismo. Lembro de cada detalhe. Torcedores recepcionando a delegação nos hotéis, a busca frenética por bilhetes aéreos, ingressos e acomodações nos estádios.
Nas partidas, onde tudo é decidido por uma jogada, o sentimento foi o de que não podíamos perder, pois seria retroceder em um considerável e irrecuperável caminho. Há muito não vivenciávamos o apoio da mídia e os amplos espaços de participação nos veículos de comunicação. O Gigante Vermelho despertava, impondo o respeito e a cautela dos seus adversários.
A final, após ultrapassarmos os demais adversários, foi entre Internacional e São Paulo, sendo o primeiro jogo lá e o segundo aqui. A primeira partida levou uma legião de colorados ao Morumbi, enfrentando toda a sorte de dificuldades. Lembro de que quando cheguei no ônibus que conduziria até o estádio, uma das emissoras que transmite futebol, desencadeava uma verdadeira guerra contra o Inter. Reportava declarações jamais dadas e comportamentos jamais tidos.
O primeiro jogo serviu, ainda, para que uma importante rede de comunicações do RS afastasse a acusação da nossa torcida de que financiara um fretamento aéreo para torcedores do nosso histórico rival, em outra Libertadores. Fui um dos convidados, dentre outros colorados. Lembro bem de quando recebi um telefonema do Afonso Motta, diretor da empresa, externando o convite.
Bem, ao menos nesse aspecto estava tudo 0X0.
Lá, ganhamos por 2x1 e, aqui, empatamos por 2x2. Duas grandes partidas, onde a esquipe se superou e lutou com muita garra até o último segundo.
O time da final, em homenagem aos protagonistas foi formado por: Clemer, Índio, Bolívar e Fabiano Eller; Ceará, Edinho (Wellington Monteiro), Fabinho, Alex (Iarley) e Jorge Wagner; Sóbis (Renteria) e Fernandão. O Guiña, também fazia integrava a equipe, um guerreiro em campo.
Para mim aquela conquista tem um nome que a simboliza: Rafael Sóbis. Ele estava de corpo e alma na competição e a sua imagem ajoelhado no gramado com a nossa bandeira após a conquista é inesquecível.
Nunca mais esqueceremos! A história não serve para consolo, mas é ela que forja o futuro.