O Advogado Fura-Colchão
Romance forense | Publicação em 14.05.19Charge de Gerson Kauer

Por Carlos Alberto Bencke, advogado (OAB-RS nº 7.968)
Doutor Arencéfalo é o apelido de um advogado muito conceituado numa cidade de grande porte do Estado Sepétino, fronteira com a Argentina e o Uruguai.
Segundo a rádio-corredor-forense, “o cognome do profissional da advocacia é uma conjunção de ´Arbelino´, nome do pai dele e ´Encéfalo´, parte do cérebro que controla o organismo”. Assim se justifica que o Doutor Arencéfalo possua total domínio dos órgãos, digamos, sensíveis do seu corpo.
Até que a idade vai chegando, a gravidade atuando sobre o esqueleto. Culmina por resultar no descontrole teimoso e indisciplinado dos órgãos até então controlados...
O médico recomenda: “Tome Silaic 5mg., diariamente”.
Um tempo depois, a surpresa. A elegante esposa, discreta - ainda muito bonita, apesar da idade – pede o divórcio.
Diante do juiz que tenta reconciliar o casal, ela informa os motivos do pedido: “Doutor, não quero me reconciliar com este devasso. Acordei várias noites com ele fazendo movimentos pélvicos sobre a cama, no seco”.
O juiz pergunta ao Doutor Arencéfalo se ele quer “dizer algo acerca do desabafo conjugal”.
A resposta é imediata: “Excelência, eu próprio já me acordei várias vezes nesta situação. Só pode ser reação ao remédio que o médico me receitou para o controle dos meus órgãos atingidos pela lei da gravidade.”
A esposa entende. Há a reconciliação, com a desistência do divórcio litigioso. Mas as rádios-corredores da subseção da OAB e do fórum coincidem na informação logo difundida: “O Doutor Arencéfalo acaba de ganhar o codinome de ´Fura-Colchão´”.
No dia seguinte, as “rádios-corredores” da Ajuris e do tribunal também repercutem. Face ao sigilo judicial, não se fala mais nisso.