
O magistrado surfista
Publicação em 25.11.21Charge de Gerson Kauer

A história a seguir é de 2014 e pimpongou num evento nacional da advocacia. Em determinada corregedoria estadual começaram a chegar reclamações contra um magistrado praiano, que se revelara um "juiz s-t-q-q" - isto é, que comparecia ao foro apenas de segunda a quinta-feira, e que detestava ser plantonista.
O corregedor-geral resolveu conferir de perto e, para evitar surpresas, enviou um revelador e-mail ao colega subordinado: "Comunico que o visitarei na próxima sexta-feira para aferir sua rotina forense".
E assim fez. No saguão do foro "o juiz s-t-q-q" já esperava a autoridade e, após os abraços protocolares, ambos subiram ao gabinete.
Ali, cobrado pelas ausências, o juiz foi franco: “Eu não venho ao fórum nas sextas-feiras, porque nesse dia eu surfo. Mas faço isso enquanto também trabalho. É no meio do vai-e-vem das ondas do Atlântico que me flui a inspiração para sentenciar os mais complicados casos”.
O corregedor ficou surpreso, quando foi logo atropelado por um convite feito pelo juiz: “Vossa Excelência poderia também aproveitar nossas águas litorâneas, aprendendo a surfar”...
A autoridade visitante já se preparava para encerrar a “inspeção” (?), quando o magistrado local fez uma comparação puxassaquista: “Experimente o nosso mar, ele é muito bom; só não é perfeito porque suas águas marrons não têm a cor celeste dos seus olhos”.
Assim a correição foi encerrada.
O juiz surfista continuou a comparecer ao foro apenas às segundas, terças, quartas e quintas-feiras.
E as ondas seguiram balançando...
Qualquer semelhança com fatos reais será mera coincidência.